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poemas 1999 - 2004

by fernando koproski

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1.
sonho com um poema um poema que sinta o que sentem os rochedos frente à insistência delirante das marés sonho com um poema um poema que pense o que pensam os rochedos em seus princípios frente à impaciência azul das marés quando sonho sonho com um poema que pense em rochedos mas sinta em marés tudo o que a gente puder
2.
aprendi a escrever com a dor que me ensinaram, aprendi a escrever com a dor que eu causei. decidi que não quero mais aprender a sentir o que não for amor. decidi que não quero mais aprender com a dor o que aprendi ou ensinei.
3.
vênus de velázquez vênus que vem em luas em nem pétalas de nuvens vênus de rubens vênus de uma beleza a mais digna que se possa pensar ou pretender vênus de dalí vênus que não guarda esconder uma a uma vênus só veste o que se fez sentir um dia ainda, senhor há de ser vênus o que se deixa ver em tudo que eu vivi
4.
na tarde em que a morte me perguntou o que era o amor, pensei que não fosse comigo. como se ela não soubesse... amor talvez fosse só o que a tarde dissesse. ou talvez não. por isso ela demorasse a falar, e no início só me dissesse primavera em dias despedaçados, um ou outro outono que mais pareciam pétalas que pressa para o poente. a morte, era a única que não tinha o direito de ficar ali me olhando simplesmente. por isso não estranhei quando ela perguntou sobre meus poemas. como se ela não conhecesse aquela rosa irrecusável, e a nitidez de suas pétalas noturnas que se chamavam ternura. sei que para ela meus livros eram diários de bordo inúteis. há tempos ela me falava que o naufrágio que me tragava jamais seria compreendido. e que a tempestade – essa sim era tudo que me restava. desde o começo das chuvas, eu já desconfiava que a tempestade em todo escrito ou em incompreensão minha, só deixaria sombras de marés nas páginas. um azul irreparável esculpido em água, mas que todas as palavras líquidas de azul não abraçavam. ainda assim não desisti, mesmo porque era isso ou as páginas em branco. e as páginas em branco me perturbavam, por não se conformarem em ser apenas impaciências das ondas em quebrar. quando a morte me perguntou o que era o amor, não falei de poemas, de cartas ou de estórias que ela sabia ser somente tentativas de ternura. pedi um cigarro e pensei em todos aqueles pianos impecáveis, em desespero delicado derperdiçados, alvejados por descuido por todos aqueles pianistas que foram incapazes de se suicidar. na noite em que a morte me perguntou o que era o amor, eu olhei para ela mas não disse nada.
5.
ela 00:44
ela me falava que escrever era como morrer sol num mar de monet eu bebendo minha dor como se fosse saquê ela me falava que amor não era o que vênus vê mas o que psiquê um dia pisque eu bebendo minha dor como se fosse whisky ela me falava que mesmo que matisse mentisse eram flores de luz o que vincent pensava às cores em contra-ataque eu bebendo minha dor como se fosse conhaque ela me falava como se cada fala aonde silêncio falta fosse nosso beijo esculpido por rodin a todo instante eu bebendo minha dor como se fosse chianti. quando ela me falava de sua dor, eu já bebendo qualquer coisa.
6.
a possibilidade de lua me atormenta. sei que não será sutil, tampouco sensato quando ela chegar. a lua nunca é discreta. confissões, desastres, intenção de vôo, suicídios, tudo que a gente for capaz quando a lua daquele jeito no céu. sei que serei inconsequente, certamente indesculpável. depois que ela passar, vou me preocupar. tenho atenuantes, não importa o que disserem. essa noite azul o meu motivo, sem razões aparentes. depois que a lua passar vou me preocupar. agora não, é inútil, a lua não vai me deixar tão cedo. ela chega inquestionável como um mar onde o delírio uma música imprescindível. não adianta mais desviar o olhar. nada mais há que eu possa fazer. agora a lua é minha, minha e de mais ninguém.
7.
adeus 01:06
adeus alto de edifícios, analgésicos, todas as músicas. desse lado de alívio não há necessidade. não mais morrer para matar a sede de céu de meus olhos. adeus filmes que não vi, o mundo da lua, o que possa ser vício. desse lado não é preciso esquecer de mim. sem sentido o silêncio quando os pássaros são grávidos de azul. adeus guarda-chuvas, o dia-a-dia, tudo que pense que sei. desse lado despreocupa-se em se sentir protegido. sem importância os telhados quando a chuva de estrelas. numa esquina qualquer um sonho me espera. e não admite bagagens. ele tem no bolso uma passagem em meu nome, com a volta já antecipadamente marcada para nunca mais.
8.
quando eu morrer por favor não se ofenda mas esqueça a missa, o terno, o velório apesar do convite ser atraente já tenho outro compromisso nesse horário pode olhar na minha agenda quando eu morrer por favor me compreenda como as folhas, nuvens, pássaros que eles entendem o poema não se prende o poema venta
9.
ontem no outdoor minha dor era outra não a desse poema uma dor como aquela não se reprisa como qualquer dor de amor que se preze deságua nos olhos com pressa para que nada a represe ontem no outdoor minha dor era outra do jeito que é uma dor de fato hoje com essa dor espaço sobra até no porta-retrato
10.
atirado na órbita de um bar sou logo arrastado ao seu centro tarde demais desvio o olhar mas a noite já está lá dentro onde me espera me chama um mesmo balcão sem dor corpos cobertos de chamas girando devagar ao seu redor do vermelho nas bocas nos neons não dá pra se ficar imune crivado de drinks cravejado de sons o mar e o amar se unem na saída tropeçando em letras a lua tenta me pegar desprevenido fazendo um céu sem estrelas disparo meu último verso no ouvido
11.
de como um certo poeta fernando resolveu dar uma de pessoa mas algo acabou dando errado surgiu na área um tal de marcos prado um aqui, este ali, outro lá sem contar aquele parado não importa aonde olho há um eu meu ao meu lado tinha um dado a conselhos sempre me deixava um caco pensando que fosse meu espelho foi o primeiro que fiz em pedaços setenta e sete anos de azar fácil então não tem sido não param mais de falar agora de novo no meu ouvido meus eus, cá entre nós vamos enfim chegar a um acordo vocês, me deixem a sós eu, viver vocês todos? nem morto!
12.
para os que se ocupam de fazer análises literárias I. nos seguintes versos: se fosse em virtude que se vivesse quando um vício se distraísse se quando vênus viesse fosse em versos que me visse não minhas vertigens o que ela vestisse o nome dessa figura de linguagem não é aliteração o nome dessa figura de linguagem é vida ou os amores que eu não tive.
13.
para os que se ocupam de fazer análises literárias II. nos seguintes versos: porque meus ouvidos têm sede do que você diz, meus olhos têm essa sede de quando você sorri. porque se tuas tardes têm sede de saber quem vai nos amanhecer, minhas manhãs têm sede de tudo que te entardecer. o nome dessa figura de linguagem não é sinestesia o nome dessa figura de linguagem é Ingrid ou o amor que ainda me vive.
14.
para os que se ocupam de fazer análises literárias VI. na seguinte canção: meu bem, onde você estava que não notou? o amor dessa vez deixou a tua intuição à toa eu nunca te amei como você me amou sinceridade se desculpa mas não se perdoa agora não adianta você ser só meu amigo e por acaso toda hora se encontrar comigo porque não está para acontecer de novo a memória não me esqueceu nem um pouco o nome dessa forma poética não é quarteto com rimas abab ou tampouco ccdd pois o nome apenas de tal estrofe não me diz como naquela noite ela me falou pense, se nem depois de um gin tem jeito você ainda acha que teu charme tem chance? meu bem, nem raiva te deixa mais ver direito se sou revival ou rival em seus romances
15.
um dia talvez quando tinha 17 agora, tarde demais pra ser rimbaud tarde demais pra escrever tudo que senti e depois sumir. noites por certo de quando tinha 27 até que escrevi uma ou outra, mas para minha maior surpresa eu não morri com janis com jimi com jim. hoje tenho tantas tardes florescem florenças dentro de minha cabeça e mesmo tendo pétalas diante de pálpebras diante de pressas eu me sinto tão pobre. tarde demais pra ser rimbaud ou pra cometer suicídio um pouco cedo ainda pra pensar ser vinicius.

about

poemas de Fernando Koproski
dos livros "MANUAL DE VER NUVENS", "O LIVRO DE SONHOS",
"TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR" e "PÉTALAS, PÁLPEBRAS E PRESSAS"

gravado em Curitiba em 17 de outubro de 2005

credits

released September 9, 2012

Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 22 de janeiro de 1973. Publicou os livros de poemas: "Manual de ver nuvens" (1999); "O livro de sonhos" (1999); "Tudo que não sei sobre o amor" (2003), incluindo CD que apresenta leitura de poemas na voz do autor acompanhado pela guitarra flamenca de Luciano Romanelli; "Como tornar-se azul em Curitiba" (2004); "Pétalas, pálpebras e pressas", livro premiado com publicação pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (2004); e os livros que compõem a trilogia "Um poeta deve morrer: ""Nunca seremos tão felizes como agora" (7Letras, 2009), "Retrato do artista quando primavera (7Letras, 2014)" e "Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7Letras, 2014)". Publicou a série de ficção "A complicada beleza", composta pelos livros: "Narciso para matar" (7Letras, 2016), "Crônica de um amor morto" (7Letras, 2016) e "A teoria do romance na prática" (7Letras, 2016).

Como tradutor, selecionou, organizou e traduziu as Antologias Poéticas de Charles Bukowski "Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém" (7Letras, 2005), "Amor é tudo que nós dissemos que não era" (7Letras, 2012) e "Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça" (7Letras, 2015), bem como as Antologias Poéticas de Leonard Cohen "Atrás das linhas inimigas de meu amor" (7Letras, 2007) e "A mil beijos de profundidade" (7Letras, 2016).

Lançou o CD "Poesia em Desuso", registro ao vivo do recital que fez com o músico e compositor Alexandre França, apresentando poemas autorais, traduções e sua parceria musical, em 2005.

Como letrista, tem composições gravadas por: Beijo AA Força no CD "Companhia de Energia Elétrica Beijo AA Força"; Alexandre França no CD "A solidão não mata, dá a ideia"; Casca de Nós no CD "Tudo tem recheio"; e Carlos Machado nos CDs "Tendéu", "Samba portátil", "Longe", "Los amores de paso", "Bárbara" e no DVD "Longe ao vivo".

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