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tudo que n​ã​o sei sobre o amor

by fernando koproski

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1.
porque há um excesso de céu nos olhos seus deixei amanhecer páginas em branco sobre a neve para te conhecer. porque há um excesso de céu nos olhos seus todos os nomes do amor escrevi para te esquecer. porque há um excesso de céu nos olhos seus noite a noite tenho que te perder em tudo que for preciso. porque há um excesso de céu nos olhos seus entendi que para as magnólias só o sentir tem sentido. porque há um excesso de céu nos olhos seus de manhã li lírios em teus delírios. porque há um excesso de céu nos olhos seus de tarde vi verdade nas violetas. porque há um excesso de céu nos olhos seus sei que se temos uma crise depois temos crisântemos. porque há um excesso de céu nos olhos seus ontem enterrei todos os cadáveres das flores que a florista não quis. porque há um excesso de céu nos olhos seus ignorei rasguei todas as cartas que o outono me mandava. porque há um excesso de céu nos olhos seus agora o inverno jamais irá saber meu endereço outra vez. porque há um excesso de céu nos olhos seus um telefonema me despertou no meio da noite. era a primavera apreensiva e ofegante. uma primavera repleta de relógios hesitantes. porque há esse excesso de céu nos olhos seus um telefonema me despertou no meio da noite no meio da manhã no meio da tarde. era a primavera. e eu disse sim.
2.
esse flamenco é de um encanto agressivo como tudo que não falado é escrito por um amor desesperado é de uma graça e de uma agressividade graça como a de um vestido que vermelho se abre em pétalas e agressivo como um olhar onde as rosas vestem espinhos é de uma graça e de uma agressividade esse flamenco que faz as rosas despertas porque vê nos espinhos um caminho para as pétalas
3.
um dia perfeito para morrer um dia perfeito para morrer é hoje, um dia será ontem, aonde a gente foi amanhã, não um dia perfeito para morrer é o primeiro dia da primavera nunca o último do verão um dia perfeito para morrer é todo dia em que a vida vem e você pára para ver o mar um dia perfeito para morrer é quando se passa o dia inteiro com os amigos num bar um dia perfeito para morrer é todo dia que distrai o teu diário da dor um dia perfeito para morrer é o do primeiro beijo nunca o último de um amor um dia perfeito para morrer adianta um céu no que a gente tem sede de ser um dia perfeito para morrer é todo dia em que não se pode deixar de viver
4.
tango flamenco quando o seu andar de lagoa dança o ballet distraída me mostras a fragilidade das águas azuis aos teus pés quando o seu andar de lagoa dança o ballet teu vestido marés quando o seu andar de lagoa dança o ballet antes viver no poente imperturbável de nós dois que morrer em todas as rosas que não és depois
5.
ódio platônico a tua dor que me desculpe o que você sente nem tem mais sentido amor então que me preocupe mas o teu ódio não será correspondido para odiar te falta destreza nesse olhar mais mágoa que a tristeza se ainda não tiver percebido tua aspereza não me deixa comovido nem se disser que o que você sente para nós dois é suficiente terá possibilidade um dia você vai entender obsessão e não ódio de verdade o que se odeia quando se adia o coração
6.
a morte tem olhos de poente, de um poente lilás aparentemente inofensivo no meio de tantos azuis. tive um amor que vestia vermelho não importa que vestido vestisse. ignorava o sol, só a noite o significava. quando vinham os violões, meu amor era o vinho, uma fogueira, as lágrimas e o mesmo poente, tudo que ardia inevitável como uma perda incompreensível, definitivo como a intenção da lua, quando fica um pouco vermelha querendo chegar mais perto do chão, esquecendo que é lua e me convidando para dançar. tantas rosas represadas dentro de mim, num jardim que pensei não mais existisse. as rosas rompem uma imensa barragem de relógios. agora os dias não podem mais as conter, confiar na eficácia de seus céus cinzas. as rosas aprenderam a viver apenas dos solos de violoncello, a beber em chuva o amanhecer e todos os entardeceres. quando o cinza cede, o céu não mais me seda. irrompe uma torrente de flores, todas vermelhas. um cabernet de rosas. impossível de as estancar, as pétalas fogem violentas do meu peito, não perdoam minha camisa branca, mancham tudo que toco, cada página que escrevo. fingir não pode reter essas rosas, tampouco a razão pode as coagular. elas irão me denunciar. demorar com pressa pétala a pétala meu amor.
7.
a song that sings butterflies há borboletas dentro de minha cabeça, querendo sair a qualquer custo. não as importa o escuro de dentro, mas esse som que não é música – um ruído que azul as faz flutuar por todas as possibilidades incontornáveis de dor. há borboletas se debatendo dentro de minha cabeça. e não sei o que fazer. hoje elas já amanheceram assim. as borboletas me olham azuis, as borboletas nascem azuis. nascem da fragilidade feito a fragilidade fosse flor e não o fim. a ternura são todas as pétalas do jardim. as borboletas são entrega de sol ao lago. são sins, são nãos, são talvez. sins de cisnes em não de noites, talvez a tez que têm todas as flores. as borboletas, só o que há entre o início e fim dos beijos de nós dois.
8.
tudo que cabe dentro de um beijo é tudo que comece e não acabe dentro de um beijo. tudo que cabe dentro de um beijo é tudo que sei que não se sabe dentro de um beijo. um céu de claridades irrepreensíveis depois da chuva uma terra de belezas indevassáveis depois da chuva que há dentro de um beijo. tudo que cabe dentro de um beijo é tudo que tive tudo que me vive tudo que Ingrid. tudo que tive é toda a chuva de dentro de um beijo. tudo que me vive é toda chuva que foram pianos dentro de um beijo. tudo que Ingrid... só o que tive e me vive dentro de um beijo. tudo que cabe dentro de um beijo é todo vinho que não se sabe nas rosas é toda noite que não se nota nas pétalas. tudo que cabe dentro de um beijo é tudo que não sabe ser magnólia em teu escuro despetalar teu despedaçar despedir e despertar. tudo que cabe dentro de um beijo é todo azul que de céu alaga teu mar toda lua que abre em magnólias atrás do céu quando o céu tem de nublar. tudo que cabe dentro de um beijo é todo voltar – de todo o inverno, por todo o verão. verão de cada sentir e inverno de todo pensar. tudo que cabe dentro de um beijo enfim apenas cada te ver onde escolhi morrer meu olhar.
9.
a minha dor 01:09
a minha dor só pode estar doente aonde já se viu não doer desse jeito? sem dor o que é que será da gente? era uma dor pra nem poeta ver defeito o poema agora que não me desminta uma dor assim não é dor que se sinta dor que é dor só escuta samba triste se depois faz blues é só por despiste sei que não é coisa para se pedir, senhor mas o que será desse poema, sem dor? ah, uma dorzinha que seja, ao menos uma vez só para morrer em sim todo o talvez uma dor assim para na gente doer o que parece que até não é mais dor uma dorzinha só, para ninguém ver quem me adoeceu o doer de um amor
10.
tenho que ter cuidado com a primavera, ela faz essas flores todas de propósito. ando num jardim visível somente aos ouvidos onde faz manhãs que nunca vi antes. as flores para mim são desconcertantes porque me lembram como eu era, e na frente delas não sei disfarçar. quando adormeço confio em chuvas indecisas. conheço todas as estratégias da primavera, sei o que cada olhar, cada ato significa, mas quando ela vem esqueço tudo que aprendi, às vezes me entrego aos arranjos mais ingênuos. se ao menos ela viesse sozinha sem canções, mas parece que ela faz questão. acontece que agora não será assim tão simples, estou lúcido, absurdamente sóbrio, e dessa vez não irei me render às rosas. as rosas – quem diria – têm um alcance impressionante quando saem dos auto-falantes.
11.
se fosse 00:39
se fosse em virtude que se vivesse quando um vício se distraísse se quando vênus viesse fosse em versos que me visse não minhas vertigens o que ela vestisse viver seria tão simples ventos para o que as nuvens sonhassem valsas para o que os violoncellos sentissem em nuvens exaustas tanto azul tanto quanto existisse
12.
o livro da saudade mora dentro de mim. ele tem impressa página por página uma pressa por toda falta que em vento se despressente em pétalas. o livro da saudade tem as suas páginas todas em branco. uma a uma preenchidas por versos de líquida nuvem. assim para que não se divise memória de esquecimentos. feito esse seu céu e meu mar para as noites – uma só escuridade grávida de manhãs azuis. o livro da saudade é um concerto escrito originalmente pela chuva numa tarde de sol para dois pianos e orquestra. enquanto um toca allegros lembrados pelo outono. o outro, todos os adágios esquecidos pela primavera. o livro da saudade tem versos de tez branca, um talvez das pétalas enluaradas de jasmim. tem a nitidez nublada de pinturas sonhadas, os olhares de despedida inconformados dos quadros, enfim todos os diálogos desesperados de filmes de amor. o livro da saudade às vezes parece ser todo livro que leio, vejo, ou que distraidamente sou.

about

poemas de Fernando Koproski
do livro "TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR"

temas musicais compostos por Luciano Romanelli

gravado em Curitiba entre junho e julho de 2003

credits

released December 9, 2003

Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 22 de janeiro de 1973. Publicou os livros de poemas: "Manual de ver nuvens" (1999); "O livro de sonhos" (1999); "Tudo que não sei sobre o amor" (2003), incluindo CD que apresenta leitura de poemas na voz do autor acompanhado pela guitarra flamenca de Luciano Romanelli; "Como tornar-se azul em Curitiba" (2004); "Pétalas, pálpebras e pressas", livro premiado com publicação pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (2004); e os livros que compõem a trilogia "Um poeta deve morrer: ""Nunca seremos tão felizes como agora" (7Letras, 2009), "Retrato do artista quando primavera (7Letras, 2014)" e "Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7Letras, 2014)". Publicou a série de ficção "A complicada beleza", composta pelos livros: "Narciso para matar" (7Letras, 2016), "Crônica de um amor morto" (7Letras, 2016) e "A teoria do romance na prática" (7Letras, 2016).

Como tradutor, selecionou, organizou e traduziu as Antologias Poéticas de Charles Bukowski "Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém" (7Letras, 2005), "Amor é tudo que nós dissemos que não era" (7Letras, 2012) e "Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça" (7Letras, 2015), bem como as Antologias Poéticas de Leonard Cohen "Atrás das linhas inimigas de meu amor" (7Letras, 2007) e "A mil beijos de profundidade" (7Letras, 2016).

Lançou o CD "Poesia em Desuso", registro ao vivo do recital que fez com o músico e compositor Alexandre França, apresentando poemas autorais, traduções e sua parceria musical, em 2005.

Como letrista, tem composições gravadas por: Beijo AA Força no CD "Companhia de Energia Elétrica Beijo AA Força"; Alexandre França no CD "A solidão não mata, dá a ideia"; Casca de Nós no CD "Tudo tem recheio"; e Carlos Machado nos CDs "Tendéu", "Samba portátil", "Longe", "Los amores de paso", "Bárbara" e no DVD "Longe ao vivo".

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fernando koproski Curitiba, Brazil

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